Cartografias e diagramas: pensando com imagens e com o espaço

Cartografias e diagramas: pensando com imagens e com o espaço

ART00030 – Tópico Especial
Carga horária: 30 horas/aula
Créditos: 02 (10 encontros de 3h cada)
Público alvo: Alunos do PPG, aceita alunos ouvintes
Professor(a) responsável: Dra. Cristina Thorstenberg Ribas
Professor Colaborador/PPGAV/Pós-doc PNPD/CAPES (Supervisão: Profa. Dra. Maria Amélia Bulhões)
Terças-feiras, das 9h – 12h
Início das aulas ERE: 22/03 – 11/06
Número de vagas: 25
Local: mconf ou jitsi meet (link a ser informado por e-mail)
Área de Concentração (PV/HTC) – Ambos

Aulas expositivas, seminário de leitura, compartilhamento de produção teórica e artística, escrita e desenho.

Súmula

A disciplina Cartografias e diagramas: pensando com imagens e com o espaço surge a partir do interesse em perceber que a pesquisa em arte contemporânea pode ganhar muitas novas formas de desenvolvimento quando pensada a partir da relação entre as imagens e do espaço, assim como aprende das ‘constelações’ de imagens que podem surgir nos processos de pesquisa, no qual uma certa arqueologia procura inaugurar relações singulares, tal como na obra de Aby Warburg. Neste curso, os conceitos de diagrama e cartografia (Basbaum, Mesquita, Holmes, O’Sullivan), a partir de referenciais contemporâneos diversos, mais internos ou externos às artes, são aliados para produzir processos de pesquisa e processos estéticos.
Vamos estudar a produção de cartografias visuais e diagramas aliadas à pesquisa em artes, orientada tanto para artistas como para historiadores e curadores (de Soto, O’Sullivan, Holmes, Mesquita). O objetivo é pensar não apenas a produção de imagens, as semióticas intrínsecas a elas e sua circulação (Guattari), mas a relação entre as imagens e, com isso, a produção do espaço ele mesmo. Espaço e tempo se articulam na produção de espacialidades virtuais, reais, digitais ou concretas – públicas, partilhadas, comuns, sensíveis, produtivas. Espacialidades e temporalidades não lineares, de maneira que se possa analisar também a produção do olhar ocidental e as cosmologias situadas que vem desestabilizar essa linearidade. Por isso, veremos como a pesquisa em artes pode ressaltar, também, a importância do papel da ‘cognição inventiva’ na constituição dos imaginários (e dos processos de pesquisa) num processo não objetivista mas extremamente rico entre produção de subjetividades e mundos (Kastrup, Stengers).
Diante da saturação das imagens na era digital e de seus limites, poderemos produzir maneiras de reorganizar fluxos e espacialidades, e analisar a circulação e a relação entre imagens, imaginários, espaços, sociabilidades e mundos, de forma que se possa analisar também a relação entre arte e ciência, e a produção inevitável de complexidades nesses processos de análise e produção do conhecimento (Stengers).

Objetivo

Neste curso vamos tomar conhecimento tanto da produção teórica sobre cartografia como a produção de autores e grupos tais como Bureau D’Études, Iconoclasistas, Pablo de Soto, Ricardo Basbaum etc, a partir de autores da filosofia, das artes e da história das artes, da psicologia social, da arquitetura e da geografia crítica. Os conceitos a serem investidos são cartografia subjetiva, cartografia visual, cartografia social e crítica ou contra-cartografia, cartografia como método de pesquisa, diagrama icônico, diagrama funcional, geopsiquiatria, espaço, virtualidade, complexidade, invenção, especulação, produção de conceitos, entre outros.
O conteúdo da disciplina será revertido sobre os problemas da pesquisa em arte e da criação, da visualidade e do imaginário, e demais problemas da estética na contemporaneidade, de maneira que o(a)s aluno(a)s tenham acesso a um conteúdo interdisciplinar que diversifica a pesquisa em artes e a relaciona com outras áreas do conhecimento.
A disciplina tem por objetivo também realizar um percurso conceitual e abrir espaços de intervenção e diálogo com a pesquisa dos(as) mestrando(a)s e doutorando(a)s – que são convidados a partilharem suas pesquisas e participarem do seminário de leituras, auxiliando-os no desenvolvimento de seus trabalhos.

Método de trabalho

No modo ERE as aulas serão realizadas em sala de aula virtual. Manteremos um encontro por semana com duração de 3h. Os encontros em sala de aula virtual serão 10 ao total. As aulas em modo ERE mantém a estratégia de ensino da disciplina presencial: aulas expositivas e dialogadas, realização de seminários por parte da/dos aluna/os apresentando leituras e seus processos de pesquisa, análise e discussão conjunta de estudos de caso, e um trabalho final.

Avaliação

Presença mínima de 75% das aulas. Cada aluna/aluno deverá participar de ao menos um seminário com leitura de texto, partilha do seu processo de pesquisa e um trabalho final de até 12 páginas ao final do semestre.

Conteúdo programático

O cronograma completo de leitura será detalhado na primeira semana de aulas, cujas leituras estão listadas na bibliografia. Aulas expositivas serão preparadas pela professora, relacionando a produção de teórico(a)s, artistas, processos e projetos da arte contemporânea e afins, nos seus cruzamentos e atravessamentos com os estudos da comunicação, a psicologia social e os estudos da cognição e da subjetividade.

Bibliografia (a ser revisada e atualizada)

*Todos os textos serão compartilhados em drive/pdf ou link na internet.

Basbaum, Ricardo. Além da pureza visual. Porto Alegre: Editora Zouk, 2007.

_________. Diagrams, 1994-ongoing. Berlim: Errant Bodies Press, 2016.

Bureau D’Études, Holmes, Brian and Lomme, Freek. An Atlas of agendas: Mapping the power, mapping the commons. Paris: Onomatopee, 2013.

Kollectiv Orangotango. This is Not an Atlas: A Global collection of counter-cartographies. Verlag/Bielefeld: Transcript / Rosa de Luxemburg Stifund  2018. Disponível em < https://notanatlas.org>
Iconoclasistas (Julia Risler e Pablo Aires). Manual de mapeo colectivo: recursos cartográficos críticos para processos territoriais de criação colaborativa. Buenos Aires: Tinta Limón e os editores, 2013.
Kastrup, Virginia. A invenção de si e do mundo. Uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

Kastrup, V.; Passos, E. Passos. Políticas da cognição, Porto Alegre: Sulina, 2008

Guattari, Félix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990.
Guattari, Félix. O Insconsciente Maquínico. Campinas: Papirus Editora, 1988.

Guattari, Félix. Schizoanalytic Cartographies. London/New York: Bloomsbury, 2013. (versão em espanhol disponível em PDF)

Holmes, Brian, Guattari’s Schizonanalytic Cartographies. In: Continental Drift. Disponível em <http://brianholmes.wordpress.com/2009/02/27/guattaris- schizoanalytic-cartographies> [Acessado em Junho 2013]

Mesquita, André. Mapas dissidentes: contracartografia, poder e resistência. São Paulo: Humanitas, 2019.

Michaud, Philippe-Alain. Aby Warburg e a imagem em movimento. Belo Horizonte: Contraponto, 2021.

O’Sullivan, S., “On the Diagram (and a Practice of Diagrammatics)”. Em: Situational Diagram, eds. Karin Schneider and Begum Yasar, New York: Dominique Lévy, 2016. ISBN 978-1-944379-09-4

Ribas, Cristina T., “Complexidade, Cartografia de”. Em: Indisciplinar. UFMG, Belo Horizonte, 2017. <http://blog.indisciplinar.com/sobre-a-revista-2/> (artigo) [acessado em 03/05/2017]
Ribas, Cristina T. “Diagramas especulativos a partir da análise institucional, ‘desejos de grupo’ no Brasil em crise”. Em: Revista Modos, no prelo. 2022

Ribas, Cristina e Schweizer, Paul. “Hydrocartography”, Em: C-mag – Maps, Issue 150, Toronto, Canada, 2021. (p. 18-22)

Stengers, Isabelle, Power and Invention: Situating Science. University of Minesota Press, Minneapolis, 1997.

Stengers, Isabelle. A invenção das ciências modernas. São Paulo: Ed. 34., 2002

Warburg, Aby. Mnemosyne Atlas. (e textos) https://warburg.library.cornell.edu/panel/b

 

Vídeos e filmes

Brian Holmes. Guattari’s Cartographies: Territory, Subjectivity, Existence. 2011

Este No Es un Atlas – Un documental sobre contra-cartografías. Kollectiv orangotango. Berlim, 2019 <https://notanatlas.org/videos/>

Cidades Multiespécies (de Soto, et al.) , Apresentação final de disciplina da Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFPB, ministrada por Prof. Dr. Pablo de Soto, 15/06/2021

Virginia Kastrup (palestra)
As políticas da cognição e a invenção de um mundo comum e heterogêneo

Processos de pesquisa, produção de conhecimento e criatividade processual /// sinopse

Processos de pesquisa, produção de conhecimento e criatividade processual:

Cartografias esquizoanalíticas no Brasil

A tese analisa o conceito de “cartografia esquizoanalítica” a partir do trabalho de Félix Guattari e seu desenvolvimento prático e teórico no Brasil. Práticas cartográficas vem sendo desenvolvidas extensivamente no Brasil desde os anos 1980, sobretudo a partir das teorias e práticas de Guattari e dos contextos da análise institucional francesa e psiquiatria institucional italiana. Cartografias esquizoanalíticas podem ser desenvolvidas como uma ferramenta ou como um dispositivo para analisar o agenciamento coletivo do desejo.

Cartografias mapeiam e criam: elas são realizadas por aqueles que querem produzir suas próprias vidas, ao mesmo tempo em que resistem à opressão e os diversos modos de subjetivação capitalista que levam à subsunção do desejo, do afeto e da criatividade. Em resposta a isto, essa tese traça cartografias esquizoanalíticas que desenvolvem novos processos de pesquisa e novas formas de organização, subjetivação e institucionalização no Brasil.

Explora termos centrais no trabalho de Guattari, como os conceitos de ‘transversalidade’ e ‘micropolítica’ para analisar práticas de processos de pesquisa na academia, como o grupo de pesquisa Subjetividade Contemporânea, e grupos de teatro trabalhando em transversal com saúde mental como a Companhia de Teatro Ueinzz. Analiso como esses processos trabalham através das instituições, das práticas teatrais da clínica e do corpo social. A tese analisa a relação entre ‘subjetividade processual’ e ‘criatividade processual’, propondo o ‘processual’ como a forma de acoplamento entre sujeitos, modos de expressão e instituições.

Esta tese argumenta contra noções redutivas de arte politicamente engajada que propõe oposições entre as práticas estética e política, e trabalha contra definições institucionalmente circunscritas de pesquisa baseada em prática. Ao contrário, esta tese propõe novos recortes e diferentes genealogias de práticas que transversalizam e radicalizam a produção estética, conectando tais práticas a suas bases políticas, por for a da agenda das grandes instituições culturais, dos mundos e mercados da arte. A partir da análise de práticas, esta tese argumenta que cartografias esquizoanalíticas trabalham conjuntamente a ‘criatividade processual’ e a ‘produção de subjetividade’ permitindo uma reorganização dos campos dapolítica, da estética e da produção do conhecimento.

* Tese aprovada em Dezembro de 2016 no Art Department, Goldsmiths College, University of London, UK. Bolsista Capes – Doutorado Pleno, 2012. Supervisão de Dra. Susan Kelly.

To read this synopsis in english click [here]

Processual Creativity /// synopsis

\\Research Processes, Knowledge Production and Processual Creativity:
//Schizoanalytic Cartographies in Brazil

Cristina Thorstenberg Ribas

Synopsis*

In this thesis I analyse Félix Guattari’s notion of schizoanalytic cartography in its theoretical and pragmatic development in Brazil. Cartographic practices have been developed extensively in Brazil since the 1980’s, stemming from the theories and practice of Guattari and from French and Italian institutional analysis. Schizoanalytic cartographies are broadly developed as a tool to work through collective processes, as a device to analyse the collective agency of desire. Cartographies both map and create: they are realised by those who want to produce their own lives, while resisting oppression, and modes of capitalist subjectivation subsuming desire, affect and creativity itself. This thesis therefore traces schizoanalytic cartographies that devise new research processes and new propositions of organisation, subjectivation and institutionalization in Brazil. It explores key Guattarian terms ‘transversality’ and ‘micropolitics’, to analyse the practices of research processes in academia, such as Contemporary Subjectivity Research Group, and theatre groups working in transversal with mental health care, such as Ueinzz Theatre Company. I focus on how these processes work across institutions, theatre practices, the clinic and the social field. The thesis traces their work on “processual subjectivation” and “processual creativity”, proposing the “processual” as the core form of assemblage between subjects, modes of expression and institutions. This thesis argues against reductive notions of politically engaged art that pose oppositions between aesthetics and political practice, and against institutionally circumscribed definitions of practice-based research. Instead, the thesis proposes new frameworks and different genealogies of practice that transversalise and radicalise aesthetic production, connecting it in new ways to political grounds, outside of the agenda of larger cultural institutions, art worlds and markets. Through the examples of practices analysed, it argues that schizoanalytic cartographies bring “processual creativity” and the “production of subjectivity” into relation, and allow us to reassemble the fields of politics, aesthetics and knowledge production.
 

* Thesis to be submitted by September 2016 @Art Department, Goldsmiths College, University of London, UK. Bolsista Capes – Doutorado Pleno, 2012.

Para ler em português clique [aqui]

I cannot evaluate jewelry (long)

I cannot evaluate jewelry

You want to write a text about not having the body of text. Write be a text without references measure placement – to be a text that opens up other texts (?). (Or enclose it? Deny the possibility of connecting with other ones?, as if it were denying all linearity.) Reduce each substantive to a sign. You want to deny it’s nature text and call it diagram (foundational diagram, functional diagram). You want to go back to it, to the diagram, and cut out a piece. Zoom in on it. You recognize that there are processes of destruction that you collect, that you look for to transform. The not so new, and shelter the new, but you cannot in your urgent time consider everything, the whole. (Complexities…) The edge of the whole that passes by you (along side, besides), is acknowledged as contingent, it’s a whole that is open by / in cracks. The metaphor of a passage, a world in which we are ourselves the cartographers, those freedoms they give you more world. Not the world but other ones to whom you, self delivered makes another piece.

You open a little more of the diagram, that besides perceptions and intuitions take you back to the sensation of slipping into a site. That’s how you realize connected connective possible worlds. There are spaces that encloses themselves as bubbles there are tear out spaces, they became interstitial, porous, as that rupture that dematerializes and disintegrate. You feel the disintegration with the world, the pleasure in your throat and that wants to come out. Comes out as a scream armed with human minds, all of them are possible to be loved.

(…)

This text is its own pornography. This text doesn’t have legs or manner. You don’t know from where to start. If you want, it might not be art. This text, anyhow, is not yours. But right now it became yours.

(…)

You don’t chew what I gave to you. And I take all of it with my hand. I told you brief things. I told you what I thought. Where does it take me to? When I say I don’t know who’s going anymore. That’s what I say. And the heat, the entropy, or the combustion that burns in front of you, and you take with. What I give to you is not me anymore. When I say “then” I already gave to you. So, o que eu dei para você se torna minha boneca por um tempo. (Mas são as minhasguts agora. Você consegue ver isso?) That’s why I chew up to show to you. How is it to you to eat your own guts.

(…)

(Another day) somebody called me. (Not that old men from the street.) He called me as something found out, scared with his own thing, that he was bringing to show me, straight from his past. Wanted because he wanted. My way would be the plot of the drama. He said he read me. He found the proper words. Briefly interpreted me, and told me what was his goal. Showed me his short tongue. Offered me a coffee. Smoking several cigars. One after the other, quicker then I could say anything about his hieroglyphs. Not even without headstone, nothing old as that old, it was just a fresh recovery, of a gesture I don’t recognize. Gestures over a silver matter, as if was a scrawl in an aluminum plaque, an old plate found in the dawn in the street. In the journey between the bar and home-and-studio. I don’t judge. First, I looked for the secrets. He was looking for the relevance of what he was carrying. The memory should be done, I said, for the same one whose secret he himself didn’t knew if existed. Then, it’s when no one knows if this secret has any bottom. I cannot evaluate jewelry. I told him.

(…)

Today I read a text full of “criticism”. Gush everywhere and slippery words, the text affirmed some uncompleteness not to need to defy itself, it alleged a certain independence from that production from the 70’s. It tried to build up its own independence by disconnecting from any and everything. Wanted to create its importance by drifting some experimental beginning that had anything radical at all, but took resource of empty and cheap signs from a tradition one century questioned. Yes, it could exist Rothko, De Kooning, Others, but not that that was supported by means of a simulacrum. And other concepts. The mistake of Baudrillard. The soup of words washing out a discourse without North (and chance). Radicating concepts. Claimed to be theirs. Opening up a terrain of exclusivity. And exclusion. Media by media exchanged anything by any other as if it was anything else, I was watching, and it melted the plastic but it wasn’t as Alphonsus does.

(…)

I’m not talking about controlled word. Not measured word also. I wanted to avoid the gush that is disguised as madness, as looseness, as ( ), I wanted to find the text that would be made of a continued meaning net, all of it opened as loose cunt, all of it straight upright as a pole. That’s why I went through again texts written by myself – I appeal to their holes that I couldn’t remember. If I find them after they became meaningless it is not because they can be reborn again. But it’s because they never had life. (Has life what wasn’t read?)

(…)

If the history would work through forms – and that’s not what is interesting here -, what is it that the concept of history potentializes? (…) Intensities networks. Potentiality maps, as affective insurgences, contamination modes. Makes me think: a historiography that doesn’t “capture”, but one that operates, before, its own abstract machine. Abstract history. Real history.

(…)

The memory of the text (of the talk)

The memory of the usurpation

The power of conservation

The desire of the uneditable

I’m strength against those strengths

I don’t even capture my self

(…)

The object destruction

destructed

—————

perversion

————–

art field

(…)

Make space for the new. Qualify the new. Find dialogue in my own generation.

(…)

They are so dirty. They don’t want to participate. They don’t want because they are ashamed, but because they have an alive nature filled up with re-uses and they built their own fictions by means of the delirious death matter, from the other. Detachment they are the ones who have, as I saw them dragging pipes five or six blocks down road, as I saw them arriving at the corner of the square with the cachaça and the cognac. (This a bit of gold!) And in the quick cataloguing of those drummings configuring instruments and drums, tamboretes and emptiness (you need some emptiness, inside, after all, to make it resound). Me and my belly in that crossing, of converging traffic lights, illuminated without knowing by the police, closest to the ground then anything else (even closer then that flying thing that scratches like nothing else the black dust of the streets), feeling the cracks between the pieces of granite, the sound comes up before to the inside, and after, to the outside. There is dread, there is hole in the t-shirt, there is symbol, anarcho-punk, there are signs that I don’t know. Noise. Scratched. I felt. I felt on my belly the sight without spectacle, see?

(…)

That debate was a meaningless recuperation, for some, of what happened in the 80’s. We saw a film, if it wasn’t embarassing to show, after all, so many of them had stubble, showing their regularity with the curve and the texture of the stone, the spirits rhythm, the sun in the fake canvas, there was no real painting. They took the boat, to that island, they took globo (television) and it was film globo, look at that, film!! The lipstick red, and she wasn’t the only one. Everything was a bit gross, irritable, it wasn’t because they were slowly outrageous, after all, we are in other times, and in such times, look at that sluggishness, of the dialogue! Different points of view. The vision of the fragmentation is that that acknowledges the differences. E as defende? But then what? Authority of the re-signification. To the other one was a historical position. His trunks. Discourse to break this and that. Now he has the same tenor, does he? To devour. How fresh is this memory of his own immeasurability! How fresh… But also, authority to model a discourse from a production, from their own production, or make it their own, also, from the discourse. Will to gather. Happiness, infantilism. Anyhow, after all, pleasure “is (was) imperative to the work”.

(…)

I am an industry. See how I produce a series of, a volcano of manifestos. Extracts, cuts, processes. Analysis. The other, about the other. They did, they said, or they didn’t said. I would call myself a culture industry, not if they didn’t do what they did with that, with the term. Co-opted. Wrong, unfair, anti-aesthetical. Not a person, not collectivity. Productivity, productivism, performativity, reproductivism, performativism, culturalism, classe cultural, capitalism, cognitivism, cognitive capitalism, … What I always wanted, truly, was built up a force against all conservativities. I made an uncertain line between clouds, conservation – experimentation; reproduction – differentiation; authorship, identity – dispersion. Since the beginning. Rupture events. I had in mind, but it wasn’t so clear at the time. A blurry and porous strategy, possible and impossible, invisible machine, truly, an errant diagrammatic body, a fatal doubt about a participation. Perceive and scream, in a short and fragile answer, program that pushes away outside of itself whatsoever creates a terrain of exclusivity, of property, of unequivocality. Sign control? Decoding. A lot I wanted to eradicate, and as a war mission, in the middle of the battle field, I would be able to remove the war-like powers and put in trenches, only trenches, to make think from above the earth, from the intensive struggles, from the ways of defending another thing, matter: expression.

(…)

Who is this you that placed yourself in front of the whole thing? From the extensive moment to your body, organs in reception, deserted in this place without subject or object. Who?

Who is this you that acts, that requires a close sight and places yourself as a sage just as the other one that elaborated the first concatenation? Who do you become, looked after by theory, who would be an archivist in the poiesis of the Archive?

You adopted a montage tool, adopted an open problem. You abandoned yourself in front of the incomplete thing, because you don’t know about other forms. Formalised. I try not to extinguish the possible relations between the times, what can be understood also as subjects of analysis. A decade selected to elaborate the doubts about it (1970). More hypothesis about the dynamics of an art field in Brazil (nowadays). Brazil big thing. Could select another way. I propose, then, to “signal”. (Procedure that no one ever understood.) (My sister said, that I like to say “understand”.) To approximate, to signal, strange affects to an action between the expressed matter, what I “should” do and the historiography incited by the events themselves. I pointed that they are not framable in that “institutional critique” (Fraser), comprehension that would eradicate the heterogeneity of a production that enacts, in other ways, the making-political of a field.

Analyzed events. Archive of emergency. The experience of the art thing (piece). Production, “effected”, assemblage. Investigation, conditions, epistemology (of the arts).

(…)

What happens in an art class? You wait to listen to it all, what the other teachers say. Its a Forum. Radical Education Forum. They have a common background, and then maybe me too. But here… I have to find again this common other, common ground, and think about Jorge and Lenha in a class room. What do they do to people? How they became more generous, they are much more generous, then the general researcher. The severe researcher, the analytical researcher, is itself the archivist acting and manufacturing, nominating fields, but rather, within the participants and interlocutors of their own (parts, parcels, strata). Desafio. I want to listen to. We, me and you, we make ourselves artists. Então você pensa em tudo o que já pensou em desconstruir sobre ser artista para dar suporte a esse território.

territory = meaning

(…)

Being an artist means to take risks. Not knowing what you are doing. Not knowing if the knowledge is applicable to that. Knowing that it is risk, yes. That is it a line of indetermination. Takes risks. And how did I took mines, less and less, since I started to write that way. (One truth, about systems.) I should forget. That’s it. Should invent less should. Said that, I said, I seat down to write manuscripts.

Without being this or that. Without capturing myself. Without wanting to be one body. Love yourself (also).

(…)

Cristina Ribas

*published in Escritos de Artista, Michel Zózimo (ed.) 2013. Porto Alegre.

Camuflagem

Camuflagem:

Reli um pedaço do Jacques Derrida:

(…) gênero daqueles que têm lugar, por natureza e por educação. Vós sois, pois, ao mesmo tempo filósofos e políticos. (…) estratégia (…) de Sócrates (…) desnorteante (…) enlouquecedora (…) simula colocar-se entre aqueles que simulam (…) pertencer ao genos daqueles cujo genos consiste em simular (…) a pertinência a um lugar e a uma comunidade (…)

Na atualidade, artistas não exatamente se caracterizam estritamente enquanto tais. Suas ações fazem migrar entre si fatos estéticos da crítica à política, desenvolvendo aprendizagens, tornando-se organizadores, educadores, gestores, historiadores, mediadores, entre outros. Novos corpos surgem nesses agenciamentos. Eventos recentes no terreno do Brasil expõem a constituição de uma especificidade na forma de “esferas públicas” temporárias e fragmentárias, sem esquecer que se tratam de proposições com especialidades próprias. Importam nas “esferas públicas” as intensas trocas sociais instigadas entre participantes não identificados estritamente a um campo ou circuito comum de produção cultural, mas a ele associados pela via direta das práticas, que hoje se abrem entre artísticas, comunicativas e expressivas, para desenvolverem problemáticas sociais vividas por todos. A esfera pública se inscreve, necessariamente, em um “onde”, como questão.

Ações neste “onde”, que não está dado a priori, parecem produzir corpos diversos (mais que humanos). Se tornam, é possível, elementos conectivos de um grande dispositivo novo, que converge ou diverge de um território em constituição: a cidade. Analisando ações em conjunto, observamos a diversidade das práticas e o corpo de uma coisa ainda disforme. Assumem existências sem finalidade dura. Outras práticas, porém, clamam direitos. Pensam essa cidade como território produtivo, lugar de enunciação, emergência do protesto. Nela tornam explícita a realização da vida. A cidade como território produtivo clama um posicionamento, mas qual será o corpo que nela atua?

Há algum tempo me dedico a produzir formas de fazer pensar e des/entender as motivações pelas quais artistas e produtores culturais, nos anos mais recentes, se dirigem a algo que cambia e cambia de nome, mas que constantemente se reinscreve como “cidade”. Nela(s), pela promoção de esferas públicas, ações entre pares e des-pares, provocam parcerias e desencontros, sustos e atropelos, coadjuvam uma série de expressividades, comunicações e intrusões. Nestas composições, há mediações e capturas. Nalgumas situações, nada melhor do que ser estrangeiro e brincar nas cidades desconhecidas para deflorá-las. Noutras, não é possível, e não se pode atropelá-las. Em alguns territórios não há sempre becos. Não há esquinas possíveis. Não há possibilidade sequer de escuta. Nada se captura. Em outros lugares, ações provocam alardes. São produzidas como em territórios neutros. São espetáculos desejados com promessas de sucesso. Mas, causam vertigem?

Interessa pensar esse território descontrolado para autorizar-se, talvez, a uma camuflagem. Estratégia (…) enlouquecedora. Perpassamos o risco. Não pode se tratar aqui de comercializá-las. Não podem ser nem turísticas, nem históricas, cidades inteiras. Maré e Alagados, territórios contextuais. Não se pode pensar quantos isso ou aquilo. Não se pode.

Ao mesmo tempo em que eventos no Brasil têm promovido o uso de “espaços públicos”, acompanhados de pensamentos teóricos que ancoram criticamente (em termos de linguagem) e afirmações (conquistas políticas), aqui de fato caímos na cidade do desmedido. Com isso, gostaria de suspender a certeza de que ‘sabemos o que estamos fazendo’ (discursos do empreendedorismo) e chamar para a uma análise atenta das possibilidades políticas dessas cooperações. Nem nítidas, nem verdade. Incitação de nascimentos, de coisas disformes informadas pelo protesto, que não podem se esquecer da presença política de corpos, em que se pergunta: qual a disponibilidade desses novos, outros, “corpo” e “cidade”?

Publicado no Caderno Provocações / 2010 / CorpoCidade, UFBA, Salvador

Três chamadas para uma complexidade

(abaixo estão trechos do texto, para fazer download da versão completa clique aqui)

Imaginar
Caminho pensando no tempo da vida neste lugar/espaço descendo e subindo as escadas entre os andares do curvilíneo bloco, onde antes se podia ter um escape para fora e agora tijolos de seis furos cobrem a vista por baixo do cimento espesso. O interstício vertical que prolonga a observação do percurso meio que perde a função na origem reificada. Como eu introduzo uma conversa por sobre essas camadas sujas da escadaria que leva do vão livre aos andares superiores? São os moradores que sobem e descem com mais intimidade do que eu, mesmo que eu tenha observado detalhadamente a espessura das linhas feitas nos idos da década de 40. Não só aquelas linhas precisas entre espaços fazendo paredes (os desenhos do arquiteto) como as rasuras que cobrem o palpável objeto de duplo apavoramento e maravilhamento refeito Pedregulho. Realidade visível e realidade projetada.

(…)
Coletivar
No deslinde do tempo do habitar um apartamento no prédio do bloco A, o Minhocão, o projeto de residência artística se torna reconhecer um movimento de memoração do projeto moderno por diversos vetores (privado, estatal, autônomo) e avaliar desde nosso lugar os modos como isso pode acontecer: que é que trazemos para o presente como herança desse período? A memoração sem dúvida requer seleção e reativação de diversas verdades que tecem a trama complexa do Pedregulho. Entender que o ponto inicial é não buscarmos uma utopia congelada nem vias de reproduzi-a ao modo vanguardista, e sim os seus contratempos. Aportar o que temos como próprio, a criação, e elaborar perguntas em direção àquela coletividade e às demais em formação, observando de que forma não nos perdemos nos desvios incansáveis das formas de captura, mas encontramos o tino da colaboração: há uma comunidade no Pedregulho, a mesma que estranha a chegada dos artistas, que espera a presença do Estado ou que a desconhece, e, talvez, a mesma que se envolve.

(…)
Desejar
No final de semana de encontro com o grupo Frente 3 de Fevereiro tivemos um debate intenso sobre o que pode ser atuar no complexo, antes, artisticamente. Naquele momento o grupo promovia uma série de ações no Morro Santa Marta e realizava entrevistas com pesquisadores e ativistas de movimentos sociais abordando temas como racismo, democracia racial e exclusão. A pergunta que nos cabia como organizadoras do projeto seria: de que forma a residência artística promovia ali mesmo no Pedregulho uma ativação das questões que interessa ao grupo fomentar? Nos idos do debate percebi que informar a comunidade do Pedregulho da articulação ampla – considerando pensamento e ação era o mínimo que se deveria fazer como requisito para acontecimento da “residência”. “Informar” sem dúvida tomaria as formas de uma criação artística, que tivesse inteira a intenção de fazer pensar as condições de sociabilidade não só no edifício, mas na cidade do Rio de Janeiro. Por aí se descobriu o regime de controle sob o qual viviam os primeiros moradores e se pôde observar de outra forma a atualidade dos costumes no Pedregulho. A criação de um dispositivo relacional pautado em imaginação e conversa (sob o olhar inesquecido de uma câmera de vídeo, é claro), trouxe ao “Pedregulho” as estratégias de controle social em voga na cidade, tanto na cidade oficial como nas periféricas… Assim que a determinação de um pressuposto artístico não poderia existir sem a maleabilidade de uma atualização: é preciso saber onde se está e direcionar o desejo equacionado com aquelas vozes.
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Texto publicado no livro-catálogo
Pedregulho: residência artística no Minhocão
Beatriz Lemos e Cristina Ribas (org.) ISBN 978-85-61659-04-2 Belo Horizonte: Instituto Cidades Criativas / ICC, 2010

Este texto foi escrito a partir do projeto Pedregulho Residência Artística