Cartografias e diagramas: pensando com imagens e com o espaço

Cartografias e diagramas: pensando com imagens e com o espaço

ART00030 – Tópico Especial
Carga horária: 30 horas/aula
Créditos: 02 (10 encontros de 3h cada)
Público alvo: Alunos do PPG, aceita alunos ouvintes
Professor(a) responsável: Dra. Cristina Thorstenberg Ribas
Professor Colaborador/PPGAV/Pós-doc PNPD/CAPES (Supervisão: Profa. Dra. Maria Amélia Bulhões)
Terças-feiras, das 9h – 12h
Início das aulas ERE: 22/03 – 11/06
Número de vagas: 25
Local: mconf ou jitsi meet (link a ser informado por e-mail)
Área de Concentração (PV/HTC) – Ambos

Aulas expositivas, seminário de leitura, compartilhamento de produção teórica e artística, escrita e desenho.

Súmula

A disciplina Cartografias e diagramas: pensando com imagens e com o espaço surge a partir do interesse em perceber que a pesquisa em arte contemporânea pode ganhar muitas novas formas de desenvolvimento quando pensada a partir da relação entre as imagens e do espaço, assim como aprende das ‘constelações’ de imagens que podem surgir nos processos de pesquisa, no qual uma certa arqueologia procura inaugurar relações singulares, tal como na obra de Aby Warburg. Neste curso, os conceitos de diagrama e cartografia (Basbaum, Mesquita, Holmes, O’Sullivan), a partir de referenciais contemporâneos diversos, mais internos ou externos às artes, são aliados para produzir processos de pesquisa e processos estéticos.
Vamos estudar a produção de cartografias visuais e diagramas aliadas à pesquisa em artes, orientada tanto para artistas como para historiadores e curadores (de Soto, O’Sullivan, Holmes, Mesquita). O objetivo é pensar não apenas a produção de imagens, as semióticas intrínsecas a elas e sua circulação (Guattari), mas a relação entre as imagens e, com isso, a produção do espaço ele mesmo. Espaço e tempo se articulam na produção de espacialidades virtuais, reais, digitais ou concretas – públicas, partilhadas, comuns, sensíveis, produtivas. Espacialidades e temporalidades não lineares, de maneira que se possa analisar também a produção do olhar ocidental e as cosmologias situadas que vem desestabilizar essa linearidade. Por isso, veremos como a pesquisa em artes pode ressaltar, também, a importância do papel da ‘cognição inventiva’ na constituição dos imaginários (e dos processos de pesquisa) num processo não objetivista mas extremamente rico entre produção de subjetividades e mundos (Kastrup, Stengers).
Diante da saturação das imagens na era digital e de seus limites, poderemos produzir maneiras de reorganizar fluxos e espacialidades, e analisar a circulação e a relação entre imagens, imaginários, espaços, sociabilidades e mundos, de forma que se possa analisar também a relação entre arte e ciência, e a produção inevitável de complexidades nesses processos de análise e produção do conhecimento (Stengers).

Objetivo

Neste curso vamos tomar conhecimento tanto da produção teórica sobre cartografia como a produção de autores e grupos tais como Bureau D’Études, Iconoclasistas, Pablo de Soto, Ricardo Basbaum etc, a partir de autores da filosofia, das artes e da história das artes, da psicologia social, da arquitetura e da geografia crítica. Os conceitos a serem investidos são cartografia subjetiva, cartografia visual, cartografia social e crítica ou contra-cartografia, cartografia como método de pesquisa, diagrama icônico, diagrama funcional, geopsiquiatria, espaço, virtualidade, complexidade, invenção, especulação, produção de conceitos, entre outros.
O conteúdo da disciplina será revertido sobre os problemas da pesquisa em arte e da criação, da visualidade e do imaginário, e demais problemas da estética na contemporaneidade, de maneira que o(a)s aluno(a)s tenham acesso a um conteúdo interdisciplinar que diversifica a pesquisa em artes e a relaciona com outras áreas do conhecimento.
A disciplina tem por objetivo também realizar um percurso conceitual e abrir espaços de intervenção e diálogo com a pesquisa dos(as) mestrando(a)s e doutorando(a)s – que são convidados a partilharem suas pesquisas e participarem do seminário de leituras, auxiliando-os no desenvolvimento de seus trabalhos.

Método de trabalho

No modo ERE as aulas serão realizadas em sala de aula virtual. Manteremos um encontro por semana com duração de 3h. Os encontros em sala de aula virtual serão 10 ao total. As aulas em modo ERE mantém a estratégia de ensino da disciplina presencial: aulas expositivas e dialogadas, realização de seminários por parte da/dos aluna/os apresentando leituras e seus processos de pesquisa, análise e discussão conjunta de estudos de caso, e um trabalho final.

Avaliação

Presença mínima de 75% das aulas. Cada aluna/aluno deverá participar de ao menos um seminário com leitura de texto, partilha do seu processo de pesquisa e um trabalho final de até 12 páginas ao final do semestre.

Conteúdo programático

O cronograma completo de leitura será detalhado na primeira semana de aulas, cujas leituras estão listadas na bibliografia. Aulas expositivas serão preparadas pela professora, relacionando a produção de teórico(a)s, artistas, processos e projetos da arte contemporânea e afins, nos seus cruzamentos e atravessamentos com os estudos da comunicação, a psicologia social e os estudos da cognição e da subjetividade.

Bibliografia (a ser revisada e atualizada)

*Todos os textos serão compartilhados em drive/pdf ou link na internet.

Basbaum, Ricardo. Além da pureza visual. Porto Alegre: Editora Zouk, 2007.

_________. Diagrams, 1994-ongoing. Berlim: Errant Bodies Press, 2016.

Bureau D’Études, Holmes, Brian and Lomme, Freek. An Atlas of agendas: Mapping the power, mapping the commons. Paris: Onomatopee, 2013.

Kollectiv Orangotango. This is Not an Atlas: A Global collection of counter-cartographies. Verlag/Bielefeld: Transcript / Rosa de Luxemburg Stifund  2018. Disponível em < https://notanatlas.org>
Iconoclasistas (Julia Risler e Pablo Aires). Manual de mapeo colectivo: recursos cartográficos críticos para processos territoriais de criação colaborativa. Buenos Aires: Tinta Limón e os editores, 2013.
Kastrup, Virginia. A invenção de si e do mundo. Uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

Kastrup, V.; Passos, E. Passos. Políticas da cognição, Porto Alegre: Sulina, 2008

Guattari, Félix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990.
Guattari, Félix. O Insconsciente Maquínico. Campinas: Papirus Editora, 1988.

Guattari, Félix. Schizoanalytic Cartographies. London/New York: Bloomsbury, 2013. (versão em espanhol disponível em PDF)

Holmes, Brian, Guattari’s Schizonanalytic Cartographies. In: Continental Drift. Disponível em <http://brianholmes.wordpress.com/2009/02/27/guattaris- schizoanalytic-cartographies> [Acessado em Junho 2013]

Mesquita, André. Mapas dissidentes: contracartografia, poder e resistência. São Paulo: Humanitas, 2019.

Michaud, Philippe-Alain. Aby Warburg e a imagem em movimento. Belo Horizonte: Contraponto, 2021.

O’Sullivan, S., “On the Diagram (and a Practice of Diagrammatics)”. Em: Situational Diagram, eds. Karin Schneider and Begum Yasar, New York: Dominique Lévy, 2016. ISBN 978-1-944379-09-4

Ribas, Cristina T., “Complexidade, Cartografia de”. Em: Indisciplinar. UFMG, Belo Horizonte, 2017. <http://blog.indisciplinar.com/sobre-a-revista-2/> (artigo) [acessado em 03/05/2017]
Ribas, Cristina T. “Diagramas especulativos a partir da análise institucional, ‘desejos de grupo’ no Brasil em crise”. Em: Revista Modos, no prelo. 2022

Ribas, Cristina e Schweizer, Paul. “Hydrocartography”, Em: C-mag – Maps, Issue 150, Toronto, Canada, 2021. (p. 18-22)

Stengers, Isabelle, Power and Invention: Situating Science. University of Minesota Press, Minneapolis, 1997.

Stengers, Isabelle. A invenção das ciências modernas. São Paulo: Ed. 34., 2002

Warburg, Aby. Mnemosyne Atlas. (e textos) https://warburg.library.cornell.edu/panel/b

 

Vídeos e filmes

Brian Holmes. Guattari’s Cartographies: Territory, Subjectivity, Existence. 2011

Este No Es un Atlas – Un documental sobre contra-cartografías. Kollectiv orangotango. Berlim, 2019 <https://notanatlas.org/videos/>

Cidades Multiespécies (de Soto, et al.) , Apresentação final de disciplina da Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFPB, ministrada por Prof. Dr. Pablo de Soto, 15/06/2021

Virginia Kastrup (palestra)
As políticas da cognição e a invenção de um mundo comum e heterogêneo

Instinto e instituição: desbordes institucionais entre a estética e a clínica

Organizadoras_
Cristina T. Ribas, Paula Cobo-Guevara e Maria Amélia Bulhões


Apresentação_

Desde a experiência da crítica institucional anglo-saxã, se criaram novos diagramas conceituais para repensar a produção (e as condições) das práticas artísticas contemporâneas, a partir das porosidades e encontros com práticas sociais e de novas concepções espaciais dos anos 60, produzindo, entre elas, um desborde disciplinar. Por sua vez, a análise institucional vai produzir experiências, saberes e práticas singulares, também desde uma perspectiva de crítica radical às instituições, neste caso, “entramadas” nas instituições psiquiátricas, escolares, universitárias, de saúde, etc; nomeando estes desbordamentos e modulações sob o conceito de “transversalidade”. De que forma estas duas trajetórias, sejam elas travessias, navegações ou rastejos de pensamento poderiam abrir-se em afetações (afecções) comuns, atualizando experiências, práticas e saberes? De que forma se criam ferramentas, e estratégias que nos dão acesso ao problema da produção de subjetividade e, por tanto, aos modos de existência que subvertem o regime colonial capitalista, racista, antropo-logo-falo-cêntrico?

Neste dossiê damos espaço a algumas produções artísticas, críticas, narrativas e historiográficas que vem surgindo de um caminho traçado na experimentação tênue entre “instinto e instituição”, como debateram Gilles Deleuze e Félix Guattari, e outros autores que focam no que poderíamos pensar, talvez estranhamente, por destituinte, também para pensarmos uma saúde menor, e junto a ela, uma saúde menor da arte, com a minúsculo. Atentas às novas intervenções (e invenções) institucionais que vem sendo inauguradas e instauradas e às formas de produção social situadas entre os modos da clínica e da cultura convidamos autores para fomentarem esse debate, partilhando seus referenciais e suas ferramentas conceituais, e para compartilharem suas práticas.

Procuramos com esse dossiê reunir a contribuição de pesquisadores, artistas, psicanalistas, psicólogas e psicólogos, profissionais de saúde e mais, investidos nos estudos da subjetividade e em re-situar uma ético-estético-política desses desbordes institucionais. O dossiê Instinto e instituição apresenta artigos que surgem de práticas situadas, a partir da análise institucional, da anti-psiquiatria, da saúde e da saúde mental na América Latina e alhures, de clínicas públicas de psicanálise, de práticas artísticas e clínicas, de clínicas ecosóficas, que, cada uma à sua forma, surgem de uma arte das processualidades, de focos de criatividade mutante, não cafetinada, e das formas insubordinadas, fragmentárias e ao mesmo tempo insurgentes diante dos limites institucionais e das forças normotizantes que se solidificam na atualidade, práticas portanto, decoloniais. Mais do que uma reorganização topográfica, de campos ou áreas do conhecimento, nos motivou reunir aqui produções e pesquisas que podemos agarrar pelo desborde, pela barra (como de uma saia), e, porque não, pelo meio mesmo, como acesso ao campo de forças, problemático e inventivo, dessas experiências. Trabalhamos aqui uma vontade que apreendemos da história da análise institucional no Brasil, uma vontade política de produzir novos problemas, que seja uma vontade de invenção que dê passagem a afetos-matéria, e em movimento – entre espaços, grupalidades, instituições.

O dossiê apresenta artigos e ensaios que surgem de práticas situadas, a partir da análise institucional, da anti-psiquiatria, da saúde e da saúde mental na América Latina e alhures, de clínicas públicas de psicanálise, de práticas artísticas e clínicas, de clínicas ecosóficas, que, cada uma à sua forma, surgem de uma arte das processualidades, de focos de criatividade mutante, não cafetinada, e das formas insubordinadas, fragmentárias e ao mesmo tempo insurgentes diante dos limites institucionais e das forças normotizantes que se solidificam na atualidade, demarcando que são práticas portanto, decoloniais. Mais do que uma reorganização topográfica, de campos ou áreas do conhecimento, nos motivou reunir aqui produções e pesquisas que podemos agarrar pelo desborde, pela barra (como de uma saia), e, porque não, pelo meio mesmo, como acesso ao campo de forças, problemático e inventivo, dessas experiências. Trabalhamos aqui uma vontade que apreendemos da história da análise institucional no Brasil, uma vontade política de produzir novos problemas, que seja uma vontade de invenção que dê passagem a afetos-matéria, e em movimento – entre espaços, grupalidades, instituições.

(…)

{baixe este texto completo em pdf – dossiê_apresentacao aqui}

Feminismos Bastardos. Feminismos Tardios

Feminismos Bastardos. Feminismos Tardio. Abortar o Estado heteropatriarcal.

Eu sou a puta que pariu.

Eu sou a puta aborteira que pariu e que sabe muito bem cuidar, e também negar cuidado.

Eu sou a puta que pariu corpos livres.

E como aprendi com Ni Una Menos da Argentina. Eles são os filhos doentes do patriarcado. Mal paridos pelo patriarcado.

Imagine que este texto seja uma colagem.

De muitas vozes e muitas vidas. Algumas subsumidas, algumas achatadas. Algumas que se associam a outras que se pronunciam. Este texto é uma colagem. Aliás, leia esse texto com os contratempos e os infratempos e as síncopes dos tempos de um processo não linear, caótico e assustador da instituição da merda patriarcal. Heterocapitalista, machista, racista e misógina. Ou, em vez de merda, podemos dizer instituição do ‘pão com leite condensado’ heteropatriarcal. Afinal, a mais recente instituição assim o é também. A nova versão de ‘pão com leite condensado’ (pra quem não sabe, um bando de homens se masturbando ao redor de um punhado de pães…) segue o golpe que retirou Dilma do poder, e segue o golpe a cada dia.

Esse texto se escreve com os tempos de uma maternidade, de alguns abortos, e de estupros, estupros coletivos inclusive, de feminicídios e de apologias à violência de inúmeras formas, e de violência real, e de… muitos protestos, tuítes, hashtags, tomadas das ruas, rituais afro-ameríndios, peitos de fora… choros, novos enunciados. Uma eleição. E um golpe, já mencionado. E ah! Uma prisão. Exemplar. Histórica. Ideológica. Polícia política. #Elenão #Elesnunca. O tempo da escrita é um tempo que pode coincidir com o seu. Tempos que podem causar (n)uma mulher. E uma mulher que lê outras mulheres. Mulheres puta, puta-mulheres. E que conversa com elas partejando transfeminismos. Partejando feminismos transversais. Texto que vem querendo arrebentar a (aparente) indeterminação e a sexualidade imposta a um feminismo. Feminismo(s) que tem que ser, antes, pelo contrário, não branco, não classista, não heterossexual. Texto de mulheres-trans e transvestigêneres (como diz Indianare Siqueira), que amamentam suas filhas, que acolhem suas companheiras, e que abortam com elas. Abortam também o estado em seu corpo. De seu corpo. Abortam para parir estados pretos. Novas sementes, sementes de Marielle.

Imagine que há homens ao redor. Claro. Você mesmo leitor talvez seja homem. Evidente que há homens ao redor. E eles estão representados, de novo, lá no lugar que nos é tomado, de novo, como violação da realidade e da política mesma, e, sobretudo, como reafirmação dessa distância, dessa alienação. Eles tornam-se representantes. Mas do quê? Política, como eles reiteram, não é lugar para mulheres. Nem para negras, nem para pobres. É a partir do governo desses homens – e da impossibilidade que habitemos com eles espaços de representatividade, e espaços comuns, que esse texto é escrito.

Em 2018, nas campanhas para as candidaturas políticas, o corpo do outro se tornou o corpo do diálogo impossível onde morriam meu afeto e mesmo minha capacidade de escuta (aliás, o que é a escuta no sistema do não diálogo?). Antes de reforçar o outro como já intocável, antes de querer endereçar aquele que já se cristalizou naquela forma, que é o corpo daquele que se constitui ao modo semiotizado pelo conservadorismo fascistoide (e há mesmo fascistas autointitulados!), eu queria poder falar a partir de modos em passagem, de modulações, de alguma coisa que se mistura, e se arranca, para produzir a si, fora de certas capturas.(…)

(texto completo aqui feminismos bastardos-c ribas_def)

Complexidade, Cartografia de

{resumo}

A noção de complexidade emerge no trabalho de Felix Guattari relacionada à sua produção de cartografias esquizoanalíticas (GUATTARI, 2013). A complexidade como conceito pode ser pensada da mesma maneira que as cartografias esquizoanalíticas, ambos conceitos são gerativos e servem não apenas para entender, mapear e analisar mas também para incitar, inventar, criar, modular processos. O conceito de complexidade, junto com a análise de Guattari de modos de subjetivação no capitalismo contemporâneo é muito útil para entender políticas de subjetivação (ROLNIK, 2010) implicadas em modos de produção contemporâneos, seja no campo das artes, da clínica, dos movimentos sociais e outros. Neste artigo eu discuto o trabalho de coletivos, grupos, projetos de pesquisa que têm usado a cartografia de complexidade para trabalhar processos na tensão micro-macropolítica. Eu argumento neste artigo como processos cartográficos são constitutivos dos cartógrafos-pesquisadores eles mesmos, interferindo portanto na dicotomia que separa pesquisador do objeto de pesquisa. A cartografia opera como ferramenta militante e micropolítica, realizando a análise dos fluxos do poder e do capital, ao mesmo tempo em que atua como ferramenta constitutiva de processos de subjetivação, em seus processos de singularização na resistência à diversas opressões.

{da introdução}

Ressalva

A cartografia de complexidade quando aplicada na composição de territórios, na apresentação de mapeamentos, na criação de planos diversos, na criação de novos signos que desviam das significações dominantes é também uma destruição. Quando dizemos cartografia funcionando como ferramenta de composição de lutas de resistência, devemos considerar também a função destruidora das cartografias. A “cognição criativa” (KASTRUP, 2008) trabalhada a partir dos métodos cartográficos não é, portanto, meramente acumulativa. Ela opera por meio de processos e modos de semiotização que além de seleção, edição, desenho, também realiza cortes, apagamentos, destruições.

Complexidade como um conceito

De que maneira a cartografia trabalha processos de singularização ao mesmo tempo em que realiza uma análise do sistema econômico e político que é necessário enfrentar? Neste texto investigo a noção de complexidade como conceito acessório para produzir e analisar processos e projetos que desenvolvem mapas e cartografias, sejam eles mais dedicados ao mapeamento dos fluxos do capital ou à emergência de resistências aos efeitos desses fluxos. Investigo então o trabalho da complexidade como conceito que corrobora nas políticas de subjetivação que os métodos cartográficos mobilizam. O campo teórico e prático são as cartografias esquizoanalíticas desenvolvidas por Felix Guattari1 como processos cartográficos operam processos de singularização ao mesmo tempo em que produzem uma análise dos contextos econômicos e políticos nos regimes de austeridade do capitalismo contemporâneo, aos quais é necessário resistir. São matéria deste texto o capitalismo contemporâneo, as lutas de resistência às subjetivações capitalísticas e as políticas de subjetivação e singularização das lutas elas mesmas.

A noção de complexidade emerge no trabalho de Felix Guattari relacionada à sua produção de cartografias esquizoanalíticas (GUATTARI, 2013). O conceito de complexidade pode ser pensado da mesma maneira que as cartografias esquizoanalíticas, ambos conceitos são gerativos e servem não apenas para entender, mapear e analisar mas também para incitar (unleash, inventar, criar, modular processos. A complexidade surge com as bifurcações incitadas pelos processos clínicos no seu encontro com a micropolítica, e faz parte da heterogênese ontológica de Guattari. Guattari define em Caosmose (1992) que “a esquizoanálise, mais do que ir no sentido de modelizações reducionistas que simplificam o complexo, trabalhará para sua complexificação”, o que ele chama de um “enriquecimento processual”. A esquizoanálise e a cartografia trabalham então de maneira a corroborar a “tomada de consistência de linhas virtuais de bifurcação e de diferenciação” (GUATTARI, 1992, pp. 90-91) em processos de subjetivação. Essa proposta diagramática (e não programática) de Guattari não quer levar sujeitos concretos a bloqueios reais, expondo suas vidas a um caos que os imobiliza, mas quer incitar “caosmoses”. Aquilo que nos imobiliza, por sua vez, são os processos de subjetivação capitalísticos, que exaurem nossa potência de desejo, pré-significando nossos fluxos produtivos dentro da normatividade do capital (subsunção da arte, subsunção da política, subsunção da clínica, subsunção da cartografia – tudo a serviço de uma reprodução social colada ao significante capitalístico). (…)

Para o texto completo baixe aqui

Publicado originalmente na Revista Indisciplinar (UFMG), 2015

variação semiótica

09/04/2016

#vaitervariaçãosemiótica sei não. dos complexos de subjetivação, daqueles bem cabeludos, daqueles que se multiplicam na gente, sem dúvida reside um de base católica branca (no meu caso), só pode ser, esse do moralismo e da impotência que se expressa em imediata impotência política, esse de que nada do que fazemos mudará o imediatamente ali, e de que só na unificação de enunciados nos encontramos em um movimento comum, que, ao ser devidamente representado, se tornará a ordem do dia, lá no planalto central. sei não. cada vez mais brigo com os complexos de transcendência, com os tons conspiratórios, com a repetição de enunciados impotentes. a variação semiótica é uma urgência, mas ela é complexa, ela requer mais troca, requer respeito, requer escuta, requer as ‘linhas quentes’. requer produção, não reprodução. requer ética, zé mané. agora como? bora fazê.